sexta-feira, 3 de julho de 2015

Tesourinhos do baú (literalmente)

O vício...
 
...era um vício feio, Luciana sabia-o, mas já não conseguia abandoná-lo. Não queria. Começara muito nova e já se tornara rotina...
Foi aos 18 anos, durante mais uma crise de dor de dentes, que uma amiga da escola lhe disse "dá uma passa num cigarro, acalma-te logo a dor"...e daí, uma para passar a dor, outra para passar o tempo...e o vício tomou conta dela num ápice!
Fazia-lhe mal, Luciana também o sabia, mas era tão bom e relaxante...não queria parar.
Aos 25 anos engravidou da primeira filha. Foi a primeira vez, em 6 anos, que decidiu pôr um fim ao tabaco. Não foi bem sucedida. Nas três gravidezes seguintes nem se esforçou para parar, afinal de contas já sabia que não ia conseguir e vivia bem com isso. Até porque, o marido - Afonso - também era fumador veterano, estava tudo entre família.
Uns anos mais tarde, já os filhos estavam crescidinhos, Afonso decidiu parar de fumar...e impôs que Luciana o acompanhasse nessa luta, para o bem da saúde das meninas.
Foi numa viagem ao Algarve que selaram o pacto, à frente dos filhos... e foi na mesma viagem que o pacto acabou. Luciana fingia que cumpria e, quando o Afonso descobriu, ficou extremamente aborrecido!
Fumar era indispensável para o dia da Luciana correr bem... a dada altura, já não adormecia sem o cigarro, não coordenava sem ele. Ao acordar, a primeira coisa que fazia era acender um cigarro. Fumar já não lhe dava prazer... também lhe dava força.
Os anos foram passando, Luciana fumava sem medidas, podia acabar dois, três maços por dia normalmente. Alguns, acendia só pelo prazer de acender e deixava-os a queimar como insenso, no quarto, na sala, na cozinha ou na casa de banho... onde ela quisesse, onde ela passasse! Eram uns atrás dos outros, um recarregar de baterias. Para se vestir para o trabalho precisava de um, assim que entrava no carro precisava de outro... fosse para o que fosse, faltasse o que faltasse, desde que não fosse o cigarro!
Pouco antes de morrer, Luciana foi diagnosticada com um cancro nos pulmões, já em estado avançado. A luta dela já havia começado há bastante tempo e ela resistiu apenas por mais três meses.

Esta história é ficcional, inventei-a para assustar a minha mãe, há cerca de 9 anos atrás.

Sem comentários:

Enviar um comentário